Com gol à la Messi, ex-Fla ganha notoriedade no futebol da Grécia

29/06/2011 23:59

 

 

Confira a reportagem no  site: 

https://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2011/05/com-gol-la-messi-brasileiro-fica-proximo-de-levar-premio-na-grecia.html

Marcelinho Leite, cria do clube carioca e hoje no Xanthi, da Grécia, faz lance no melhor estilo 'barrilete cósmico' e concorre como gol do ano no país


Messi e Willians que se cuidem. Marcelinho Leite vem aí. Com um gol marcado no melhor estilo 'barrilete cósmico', o atacante brasileiro do Xanthi, da Grécia, concorreu ao prêmio de tento mais bonito do país nesta temporada. Não levou, pelo fato de a eleição ser por votação popular. Quem faturou foi o jogador do Olympiakos, time mais popular do futebol grego. Mas isso não impediu Marcelinho ganhar reconhecimento não só na Europa, como até mesmo na terra de Maradona, que imortalizou este tipo de lance.

Destacado até mesmo no diário "Olé", Marcelinho, de 23 anos, ganhou o troféu de prata na eleição, mas passou a ter mais reconhecimento na Europa e recebeu até sondagens e propostas de outros clubes por conta do lance. Equipes da Itália e da Espanha, além de times grandes da própria Grécia se interessaram pelo brasuca depois do tento, que aconteceu em novembro do ano passado, na vitória de sua equipe por 2 a 0, contra o Panseraikos.

BLOG BRASIL MUNDIAL F.C.: assista ao belo gol de Marcelinho

- Eu não tinha a proporção de como o gol tinha sido bonito na hora. Eu vi um espaço grande no meio do campo no time deles e saí arrancando, mesmo de lá de trás. Peguei a bola e quando senti que adiantei, vi que estava na intermediária, e pouco depois, driblei os zagueiros e saí na cara do gol. Tive frieza para fazer e vibrei muito. Fiquei paralisado na hora, porque não estava acreditando, mas só vi direito quando fui para casa e assisti na televisão. Ganhei na corrida até do juíz (risos) - contou, em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM.

Marcelinho  Grécia  (Foto: Divulgação)Marcelinho ganhou troféu como segundo gol mais bonito da temporada na Grécia (Foto: Divulgação)

GLOBOESPORTE.COM: Muitos torcedores do Flamengo não se lembram de você, mas foi lá que você começou, certo? Como foi essa experiência?

Marcelinho: Joguei futsal no Flamengo, fui para o campo com dez anos e passei por todas as categorias de base, sempre ganhando títulos. No juvenil e nos juniores, joguei bem, como titular, mas acabei sendo negociado, contra a minha vontade, com o Atlético de Madrid. Queria muito ter jogado no profissional, porque amo o Flamengo, mas tem pessoas lá dentro que não têm capacidade pra suportar o tamanho do clube e grandes talentos foram desperdiçados. Na minha época, o ataque tinha, além de mim, Renato Augusto, Bruno Mezenga e Fabiano Oliveira. Fomos campeões cariocas invictos no juvenil.

Depois do Flamengo, você foi para a Espanha. Como foi a adaptação ao futebol europeu sendo tão novo?

Foi minha primeira experiência fora de casa. Tinha 18 anos e estava muito cru, além de ter ido para uma equipe com muitas estrelas. Foi complicado, porque não estava preparado para suportar tudo isso. Até me adaptei bem, mas não tive muitas chances. Fui emprestado para o Getafe, joguei bem durante seis meses e quis voltar ao Brasil para tentar jogar em um grande clube. Fui para o Vitória, mas não tive oportunidades, então fiz uma boa pré-temporada no Ipatinga e aí apareceu a oportunidade de vir para a Grécia.

Como chegou essa proposta do futebol grego?

Eu estava no Ipatinga quando meu empresário me ligou e explicou que o Xanthi estava precisando de um ponta esquerda, porque eles jogam muito neste estilo. Como minha principal característica é jogar em velocidade, meu empresário achou que seria bom para mim. Eu ouvi e acabou dando certo. Quando cheguei aqui, fui emprestado ao Kalamata, para ganhar experiência, fiz sete gols em 13 jogos e me pediram de volta logo (risos).

Marcelinho  Grécia  (Foto: Divulgação)Marcelinho se destacou no Xanthi durante toda a
temporada no futebol grego (Foto: Divulgação)

A Grécia é um país que parece bem diferente. Frio, idioma complicado... Sofreu muito para se adaptar?

Tive que suar sangue. O europeu é muito fechado e não ajuda muito quando você não é tão famoso. Encarei a solidão, o frio e muitas dificuldades, como no idioma, que não é fácil, mas sempre com Deus e o apoio da família. O frio aqui, então, é muito intenso. Um carioca aqui não aguenta. Temos que jogar de luvas para não congelar as mãos. A vida é bem diferente por aqui, mas já me adaptei bem. Tenho três anos aqui já, aprendi o idioma... Sou praticamente grego (risos). O lugar é muito bonito. Tem ilhas e praias lindas, as pessoas são alegres... Parece que todo dia é domingo. Mas o início foi bem complicado. Quando você chega aqui sem muito valor, é complicado até ter reconhecimento. Só que o povo grego é muito legal, muito alegre, parecido com o brasileiro e isso ajuda.

Como sua família viu sua transferência para a Europa? Eles já foram te visitar na Grécia?

Agora os meus pais vêm duas vezes por ano e ficam uns dois meses comigo. Mas mesmo de longe eles estão me apoiando bastante. Meu pai, Ricardo, e minha mãe, Elizabeth, sempre conversam comigo pela internet e procuram me orientar bastante. Tenho também dois irmãos, o Thiago e o Paulo. É complicado ficar longe de tudo assim, mas acho que está valendo a pena. O Bernardo é um grande amigo meu também, que mora na Albânia, que fica perto daqui, então também nos falamos muito e nas folgas aproveitamos para sair juntos.

Você sente saudades do Brasil? Pensa em voltar para jogar em um grande clube?

Eu tenho muita vontade de voltar ao Brasil e provar meu valor em um grande clube. Sinto muita saudade. Nenhum lugar do mundo tem a alegria do brasileiro. Acredito no meu potencial e sei que uma hora essa chance vai aparecer. Mas as vezes percorremos o caminho mais difícil, como o Hulk, por exemplo, que saiu desconhecido do Brasil e hoje está na seleção.

Marcelinho  Grécia  (Foto: Divulgação)Atacante tem como caracteristica as arrancadas
em velocidade (Foto: Divulgação)

E o idioma, Marcelo? Você já está fluente no grego hoje, mas deve ter sofrido para aprender, certo? Passou alguma dificuldade com isso?

Eu cheguei sem saber nada de grego e quando iam me ensinar alguma coisa, falavam tudo trocado. Me diziam que uma frase significava alguma coisa do tipo "Boa noite, tudo bem?" e na verdade era "Sou feio, sou ridículo", quando eu precisava perguntar alguma coisa pra alguém. Teve um dia que todo mundo do time riu muito de mim. Estava no intervalo do jogo e o treinador foi passar instruções. Aí ele me chamou e falou alguma coisa que eu não entendi. Como o time estava perdendo e eu queria ajudar, só respondi "tudo bem", mas não tinha nenhum sentido com o que ele estava falando (risos).

O relacionamento com os companheiros de clube é bom? Como foi a recepção?

O pessoal aqui me recebeu muito bem. Os gregos são legais, tem também um brasileiro, o Jean Carioca, que era do Botafogo, e o Gleison Santos também jogava aqui, mas acabou indo pra a França. Teve até um caso engraçado aqui. Tem um zagueiro do time que tem um carro muito legal, que parece até o carro do Batman (risos). No estacionamento do clube, eu consegui bater no carro dele, porque estava no meu ponto certo do estacionamento. Fiquei com medo porque afundei a lateral toda do carro dele. Mas liguei para ele e ele me desculpou.

O fanatismo e a violência das torcidas no futebol russo são conhecidos em todo o mundo. Você já teve algum problema com isso?

O que existe aqui é muito fanatismo. O grego já é nervoso por natureza e eles colocam isso para fora no futebol. As torcidas do Aris, PAOK, Panathinaikos e Olympiakos são as piores. Eles lotam mesmo, colocam pressão e brigam em qualquer lugar. Eles se pegam até na rua mesmo. E infelizmente é essa imagem que passa para o Brasil e para o mundo.

Marcelinho  Grécia  (Foto: Divulgação)Brasileiro levou os pais para conhecerem a
cidade de Atenas (Foto: Divulgação)

A Europa é um desitno procurado por muitos brasileiros para o turismo também. Você já teve tempo de conhecer outros países e até mesmo lugars bonitos na Grécia?

Aqui tem ilhas paradisíacas. A meia hora da minha cidade, tem a Ilha de Tasos. Fui lá no verão e foi um sonho. Muito bonito. Atenas também é muito lindo. A cidade respira história, é o berço da civilização,  tem o Canal de Corinto, passagens bíblicas... Tudo começou aqui, toda a história, então fiquei muito feliz de ter a oportunidade de conhecer um local que representa tanto e que muita gente gostaria de visitar. É muito legal. Fiquei maravilhado. E aproveitei para conhecer a Itália, agora na Páscoa, fui a Monaco também, e vivi em Madri, que é outra cidade muito bonita.

Fala-se muito em uma crise econômica na Grécia. Você acha que isso pode influenciar no seu futuro e também no futuro do clube?

Infelizmente, a crise está afetando o país. Só os clubes grandes estão sobrevivendo. Segundo as previsõs aqui, a tendência é piorar. O preço de tudo aumentou, os impostos também... Está complicado. Mas independente do que acontecer, sou muito grato à Grécia, porque foram eles que abriram as portas do futebol para mim. Coisa que o Flamengo não fez. Recebi algumas propostas de clubes de outros países e até daqui mesmo, mas ainda não decidi. Volto para o Rio na próxima semana e vou decidir com o meu empresário.